sábado, 14 de maio de 2011

A Carta.

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as noticias.
Eu mesmo envelheci: olha, sem relevo.
Estes sinais em mim, não das caricias.
(tão leves) que fazias no meu rosto:
são  golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazer não é tanto
 à hora de dormir quando dizias
 “Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.
É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.

(Lição de Coisas, Livr. Jose Olympio Ed.Rio 1962 p. 75)

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